“O processo eleitoral de 2022 se tornou uma batalha de todos contra Bolsonaro e nada mais”. É assim que o jornalista Raphael Tsavkko Garcia resume o cenário da política nacional. Para ele, todas as experiências vividas por momentos como Junho de 2013 e mesmo a Operação Lava Jato acabaram tragados por uma elite que surfou nessas ondas e depois foi para outras praias. O resultado é que tudo tem se resumido a disputas polares e ausência completa de projetos para o Brasil. “Se por um lado derrotar Bolsonaro é um dever de primeira grandeza, por outro o PT é parte imensa do problema que explica a falta de alternativas”, observa, na entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Crítico contumaz do atual governo, mas também de uma esquerda que foi desnutrida pelo PT e pelo lulismo, Garcia analisa: “sem dúvida derrotar Bolsonaro é uma tarefa importante, talvez a mais importante, mas qualquer um que assuma estará apenas governando por inércia e sem qualquer tipo de projeto – e isso vale especialmente para a esquerda que cada vez mais se afastou de suas bandeiras históricas”.
Para ele, derrotar a figura de Jair Bolsonaro não significa o fim do bolsonarismo e muito menos de uma extrema-direita. “Assim como nos EUA, onde pesquisas mostram que Trump já é favorito para as próximas eleições e a extrema-direita tomou de assalto o Partido Republicano, no Brasil o extremismo de direita garantiu seu lugar ao sol e não vai retroceder. Pelo contrário, vai se aproveitar do discurso antipetista que voltará a ser seu principal argumento”, compara. Isso também porque aquela mesma elite conservadora que citamos no começo do texto parece já ter escolhido a sua nova onda. “Moro surge como uma terceira via com capacidade para quebrar a dualidade – mas no fim ele é apenas uma faceta da extrema-direita hoje bolsonarista e assumiria seu lugar. Nem à direita e nem à esquerda existem, hoje, alternativas efetivas à dualidade lulismo versus bolsonarismo. Tampouco vemos qualquer tentativa real de construção dessas alternativas”, reflete.
Mesmo se mostrando muito pessimista com o Brasil de hoje e com o que se projeta para 2022, ele não deixa de manifestar um desejo. “Urgente seria, apesar do calendário eleitoral, que a esquerda (e mesmo a centro-direita, os liberais) fosse(m) capaz(es) de propor algo novo, de se livrar de ranços autoritários, de discursos do século passado como stalinismo, do lulismo e do identitarismo e buscasse uma forma de propor pautas de inclusão efetivas, mudanças reais e de se mostrar aberta ao diálogo e ao novo”, aponta.
Entrevista ao portal de notícias do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos): Crise política e desafios para 2022. São Leopoldo, Brasil, 2021. (14/12/2021).
Note: Interview in Portuguese
Interview to the news portal of the Instituto Humanitas Unisinos (IHU), of the University of the Vale dos Sinos (Unisinos): Political crisis and challenges for 2022. São Leopoldo, Brazil, 2021. (14/12/2021).
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